quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Vinícius (2005) - Miguel Faria Jr.

Eu poderia suportar, embora não sem dor,
que tivessem morrido todos os meus amores,
mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!
(Vinícius de Moraes)

Vinícius de Moraes foi um dramaturgo, jornalista, diplomata, compositor popular e um dos maiores poetas brasileiros. Sua importância para a cultura brasileira se deu especialmente pela sua poesia de caráter lírico, percorrida pelo teatro, cinema e música. Nessa última, consagrou-se como um grande compositor, que produziu músicas que são lembradas e reinterpretadas até hoje, como Chega de saudade, Eu sei que vou te amar, Pela luz dos olhos teus e Garota de Ipanema, que lhe rendeu sucesso internacional.

Explorando esse lado mais musical do Vinícius, Miguel Faria Jr. resolveu fazer um documentário mostrando a vida e obra do poeta, a família e os amigos, além de seus vários amores. O filme intitulado Vinícius (2005), trata-se de uma homenagem em forma de pocket show, que é tomado como ponto de partida para a reconstrução da trajetória do “poetinha” (alcunha dada pelo músico Tom Jobim).

Ao nos apresentar os pais de Vinícius de Moraes, já podemos notar como seu lado de artista teve influências desde a infância, pois seu pai (Clodoaldo Moraes) era um poeta e violinista, e sua mãe (Lídia Cruz), uma pianista. Ambos sempre se preocuparam com a educação do filho, que estudava nas melhores escolas da época e chegou inclusive a graduar-se em Ciências Jurídicas e Sociais. Contudo, o interesse dele pela poesia sempre fora maior do que pela vida acadêmica.

Vinícius de Moraes era um boêmio e conquistador inveterado. Gostava de viajar para o exterior, de fazer festas com amigos e era um consumidor fanático de uísque, cujo papel – segundo relato do músico Edu Lobo – foi fundamental para a criatividade do poeta.

Vinícius com a garota de Ipanema, Helô Pinheiro.

Comparada à série de episódios Vinícius – Poesia, música e paixão, produzida pela Radio Cultura AM em 1993, o documentário Vinícius funciona tão bem quanto o primeiro, já que de forma mais resumida (mas não superficial) apresenta tudo que está presente na série dos anos 30. Talvez o filme de Miguel Faria Jr. seja até melhor, no que diz respeito ao encanto causado pela musicalidade de Vinícius, que nos atinge através de grandes músicos da MPB, como Caetano Veloso, Maria Bethânia e Chico Buarque, e através de sambistas contemporâneos como Zeca Pagodinho e Mart’nália.

A importância de Vinícius de Moraes, já afirmada no início deste texto, é ainda mais comprovada neste filme. As inovações que o artista trouxe para o campo da música foram enormes. Chega de Saudade, interpretada por João Gilberto, é considerada um dos marcos inaugurais da Bossa Nova, movimento iniciado com Tom Jobim, João Gilberto e o próprio Vinícius de Moraes. Não bastasse isso, ele compôs também o álbum considerado o divisor de águas da MPB, chamado Os Afro-Sambas, mesclando vários elementos da sonoridade africana ao samba.

Ao lado do uísque, as mulheres eram sua outra paixão. De fato, ele era um exímio galanteador e conquistador, o que acabou lhe rendendo nove casamentos durante toda a sua vida. Grandes poemas da literatura brasileira surgiram dessa necessidade de Vinícius em homenagear sua amada, como Poema dos Olhos da Amada, cantado no documentário por Caetano Veloso.

O ponto mais positivo do documentário são as entrevistas. Miguel Faria Jr. foi muito feliz na escolha dos entrevistados, trazendo relatos de grandes amigos de Vinícius e que foram parceiros musicais dele, como Toquinho, Chico Buarque e João Gilberto. Também temos a participação de Ferreira Gullar, para comentar a obra literária do “poetinha”.

As belas interpretações musicais, as entrevistas e a poesia presentes neste filme fazem dele um excelente documentário, que funciona tanto para os desconhecedores da obra de Vinícius quanto para aqueles que são fãs do “branco mais preto do Brasil”.

Curiosidades:
  • Em uma entrevista coletiva, realizada após a exibição do documentário para a imprensa, Miguel Faria Jr. falou que as filmagens para o filme foram muito descontraídas, que ele visitava as pessoas para bater um papo, geralmente regado à bebida, e deixava a câmera gravando enquanto conversava com os entrevistados. Por isso, conseguiu que os relatos fossem espontâneos.
  • Segundo o diretor, a quantidade de material que sobrou do filme daria para fazer um especial bem interessante para a TV ou mesmo um DVD recheado de extras.
  • A ideia do documentário sobre Vinícius de Moraes, segundo o diretor, surgiu pelo fato deles terem tido amigos em comum, como Edu Lobo e Chico Buarque, e que quando se encontravam sempre evocavam a figura do poeta. Além do mais, Miguel Faria Jr. foi casado com Suzana Moraes, que inclusive é uma das produtoras do filme.

Fonte: https://coolturalblog.wordpress.com/2013/09/07/vinicius-2005/

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